Caríssimos irmãos e
irmãs, dando prosseguimento a nossa reflexão sobre o canto e a música nas
Sagradas Escrituras, hoje daremos início ao estudo sobre os Salmos.
Santo Agostinho,
enumerou o canto como uma das coisas que agradam o homem. O homem, ao cantar ou
ao ouvir cantar, sente uma grande sensação de prazer, o que é natural e próprio
do ser humano. Por isso, que em diversos momentos do dia, o canto ressoa com
frequência pelos seus lábios.
Gregório de Nissa, nos
diz que a primeira, verdadeira e original música consiste na consonância
perfeita de todas as coisas entre si.
Segundo Basurko:
É o
Criador do universo que faz ressoar esta música, harmonizando os distintos
movimentos dos diversos seres segundo uma ordem precisa, da mesma forma que o
músico cria uma melodia, fazendo soar as diversas cordas da lira conforme a
ordem artística. (BASURKO, 2005,p.30)
No
homem existe uma natureza musical através da constituição física de seu corpo.
A melodia musical é algo co-natural à natureza do homem e que compreende a
sensação instintiva de prazer e de agrado que ela provoca em nós quando
cantamos.
Das
melodias musicais dos primeiros cristãos pouco sabemos da forma que usaram em
seus cantos de culto. Porém, através dos textos literários dos Padres pode-se
perceber que para os fiéis cristãos, o canto era um exercício de sumo agrado,
ao qual se aplicavam com fervor e entusiasmo. Diz Eusébio de Cesaréia:
Através
do orbe do universo, em todas as igrejas de Deus, tanto no meio das cidades
como nos povoados e no campo, os povos de Cristo , reunidos de todas as gentes,
cantam hinos e salmos... ao único Deus, anunciado pelos profetas, em alta voz,
de tal forma que o som do canto pode ser escutado até por aqueles que estão
fora do templo[1].
São
Gregório Nazianzeno, vai comparar ao som de um trovão, o canto dos salmos, com
a participação entusiasta e à plena voz de toda a assembleia reunida no templo
para celebrar a festa da Epifania. Santo Ambrósio irá buscar a imagem do ruído
das ondas do mar para expressar a ressonância potente e ordenada de todo o
canto da assembleia cristã. Todos, unidos em uma mesma voz, entoam com idêntico
prazer o canto dos salmos.
Santo
Agostinho, ao se referir ao salmo diz, que quando suavemente cantado, deleita o
ouvido, que faz comentário ao salmo 132:
Este
salmo é breve, mas muito conhecido e citado: “como é bom e agradável habitar
juntos os irmãos. Tão doce é esta melodia que até os que não conhecem o
Saltério costumam cantar este verso. Tão doce como o amor que faz habitar junto
os irmãos... Estas palavras do Saltério, este som doce, esta melodia suave
tanto para que o canto como para o entendimento, deu origem aos mosteiros[2]...
Assim
como nos cantos profanos, a melodia é, o segredo do atrativo da popularidade
dos salmos. Como nos diz São João Crisóstomo: “é a melodia que proporciona aos
cantos cristãos um canto inefável”[3].
Também nos diz Basurko: “A melodia musical, com o prazer que naturalmente
produz em nós, tem uma missão providencial, querida por Deus para nossa salvação”
(BASURKO, 2005, p.33).
Os
Santos Padres da Igreja consideram o canto dos salmos[4]
como um meio instituído por Deus para restabelecer e reformar o homem caído
pelo pecado. No canto doa salmos[5],
Deus uniu o prazer da melodia, levando em conta a natureza humana e sua
inclinação, com suas palavras divinas, que ensinam ao homem o caminho da
virtude. Assim sendo, o homem que venha a se mostrar contrário a tudo o que se
possa supor incômodo ou esforço, receberá em seu coração os ensinamentos
divinos pelo prazer da melodia. São João Crisóstomo irá nos explicar melhor
este pensamento:
É necessário explicar, antes de
tudo, o uso dos salmos e por que os dizemos sob a forma de canto. Eis aqui por
que a recitação dos salmos vem acompanhado do canto: Deus:, vendo a indiferença
de um grande número de homens, que não têm nenhuma afeição pela leitura das
coisas espirituais e não podem suportar o trabalho sério do espírito que elas
requerem, quis torna-lhes este esforço mais agradável e tirar-lhes até a
fadiga. Uniu, então, a melodia um gosto muito vivo por estes hinos sagrados[6].
[1]
Comentarium in psalmum 65,
7-9, em PG, 23, 657-660.
[2] Enarratio in
psalmum 132,1, em PL 37,1729.
[3] Expositio in
psalmum 134,1, em PG, 55,388.
[4] São Basílio: “Os
salmos, enquanto lhes é possível, reprimem os defeitos desordenados que vão
surgindo no espírito humano através de sua vida e o fazem por meio da harmonia
suave e agradável que faz nascer pensamentos honestos... E, embora alguém se
encontre irado como uma fera, tão logo começa a deleitar-se no canto dos salmos,
desaparece imediatamente a ferocidade, adormecida pela melodia”. (Homilia in psalmum 1,1, em PG, 29,211).
[5] São João Crisóstomo:
“Suponde um homem entregue aos mais baixos vícios: enquanto está cantando com
respeito os salmos, adormece a tirania das paixões, e, embora esteja oprimido
por inumeráveis males e seja vítima de uma profunda tristeza, a suavidade
destes cantos alivia a sua dor, eleva seus pensamentos e levanta seu espírito
até o céu”. (Expositio in psalmum 134,1,
em PG, 55, 388).
[6]
Expositio in psalmum 41,1, em PG, 55,156.
Seminarista Edélcio Augusto Soares
4° Ano de Teologia
04 de Junho de 2013
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