sexta-feira, 21 de junho de 2013

Nota da CNBB: "Ouvir o clamor que vem das ruas"


POR:      CNBB

Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunidos em Brasília de 19 a 21 de junho, declaramos nossa solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas, que têm levado às ruas gente de todas as idades, sobretudo os jovens. Trata-se de um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência. Requerem atenção e discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, sempre em vista à construção da sociedade justa e fraterna que almejamos.

Nascidas de maneira livre e espontânea a partir das redes sociais, as mobilizações questionam a todos nós e atestam que não é possível mais viver num país com tanta desigualdade. Sustentam-se na justa e necessária reivindicação de políticas públicas para todos. Gritam contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Denunciam a violência contra a juventude. São, ao mesmo tempo, testemunho de que a solução dos problemas por que passa o povo brasileiro só será possível com participação de todos. Fazem, assim, renascer a esperança quando gritam: “O Gigante acordou!”

Numa sociedade em que as pessoas têm o seu direito negado sobre a condução da própria vida, a presença do povo nas ruas testemunha que é na prática de valores como a solidariedade e o serviço gratuito ao outro que encontramos o sentido do existir. A indiferença e o conformismo levam as pessoas, especialmente os jovens, a desistirem da vida e se constituem em obstáculo à transformação das estruturas que ferem de morte a dignidade humana. As manifestações destes dias mostram que os brasileiros não estão dormindo em “berço esplêndido”.

O direito democrático a manifestações como estas deve ser sempre garantido pelo Estado. De todos espera-se o respeito à paz e à ordem. Nada justifica a violência, a destruição do patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e instituições, o cerceamento à liberdade de ir e vir, de pensar e agir diferente, que devem ser repudiados com veemência. Quando isso ocorre, negam-se os valores inerentes às manifestações, instalando-se uma incoerência corrosiva que leva ao descrédito.

Sejam estas manifestações fortalecimento da participação popular nos destinos de nosso país e prenúncio de novos tempos para todos. Que o clamor do povo seja ouvido!

Sobre todos invocamos a proteção de Nossa Senhora Aparecida e a bênção de Deus, que é justo e santo.

Brasília, 21 de junho de 2013

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB


Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís
Vice-presidente da CNBB


Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Papa Francisco: Os ídolos impedem-nos de amar a Deus

Na missa desta manhã (06/06) na Capela da Casa de Santa Marta o Papa Francisco convidou os cristãos a desmascararem os ídolos que nos impedem de ver a Deus. Na sua homilia deixou claro que não basta dizer que acreditamos em Deus mas é preciso testemunhar essa fé no caminho da nossa vida:


" Não basta dizer: Mas eu creio em Deus, Deus é o único Deus. Isto está muito bem, mas como é que tu vives isto na caminho da tua vida? Porque não podemos dizer: O Senhor é o nosso Único Deus e depois viver como se Ele não fosse o único Deus tendo assim outras divindades à nossa disposição... Há o perigo da idolatria: a idolatria que nos chega com o o espírito do mundo. E Jesus nisto era claro: o espírito do mundo não. E pede ao Pai para que nos defenda do espírito do mundo, Jesus, na Última Ceia, porque o espírito do mundo leva-nos à idolatria. "


(RV)

terça-feira, 4 de junho de 2013

“OS SALMOS”

Caríssimos irmãos e irmãs, dando prosseguimento a nossa reflexão sobre o canto e a música nas Sagradas Escrituras, hoje daremos início ao estudo sobre os Salmos.

Santo Agostinho, enumerou o canto como uma das coisas que agradam o homem. O homem, ao cantar ou ao ouvir cantar, sente uma grande sensação de prazer, o que é natural e próprio do ser humano. Por isso, que em diversos momentos do dia, o canto ressoa com frequência pelos seus lábios.

Gregório de Nissa, nos diz que a primeira, verdadeira e original música consiste na consonância perfeita de todas as coisas entre si.
Segundo Basurko:

É o Criador do universo que faz ressoar esta música, harmonizando os distintos movimentos dos diversos seres segundo uma ordem precisa, da mesma forma que o músico cria uma melodia, fazendo soar as diversas cordas da lira conforme a ordem artística. (BASURKO, 2005,p.30)

            No homem existe uma natureza musical através da constituição física de seu corpo. A melodia musical é algo co-natural à natureza do homem e que compreende a sensação instintiva de prazer e de agrado que ela provoca em nós quando cantamos.
            Das melodias musicais dos primeiros cristãos pouco sabemos da forma que usaram em seus cantos de culto. Porém, através dos textos literários dos Padres pode-se perceber que para os fiéis cristãos, o canto era um exercício de sumo agrado, ao qual se aplicavam com fervor e entusiasmo. Diz Eusébio de Cesaréia:

Através do orbe do universo, em todas as igrejas de Deus, tanto no meio das cidades como nos povoados e no campo, os povos de Cristo , reunidos de todas as gentes, cantam hinos e salmos... ao único Deus, anunciado pelos profetas, em alta voz, de tal forma que o som do canto pode ser escutado até por aqueles que estão fora do templo[1].          

            São Gregório Nazianzeno, vai comparar ao som de um trovão, o canto dos salmos, com a participação entusiasta e à plena voz de toda a assembleia reunida no templo para celebrar a festa da Epifania. Santo Ambrósio irá buscar a imagem do ruído das ondas do mar para expressar a ressonância potente e ordenada de todo o canto da assembleia cristã. Todos, unidos em uma mesma voz, entoam com idêntico prazer o canto dos salmos.
            Santo Agostinho, ao se referir ao salmo diz, que quando suavemente cantado, deleita o ouvido, que faz comentário ao salmo 132:
Este salmo é breve, mas muito conhecido e citado: “como é bom e agradável habitar juntos os irmãos. Tão doce é esta melodia que até os que não conhecem o Saltério costumam cantar este verso. Tão doce como o amor que faz habitar junto os irmãos... Estas palavras do Saltério, este som doce, esta melodia suave tanto para que o canto como para o entendimento, deu origem aos mosteiros[2]...

            Assim como nos cantos profanos, a melodia é, o segredo do atrativo da popularidade dos salmos. Como nos diz São João Crisóstomo: “é a melodia que proporciona aos cantos cristãos um canto inefável”[3]. Também nos diz Basurko: “A melodia musical, com o prazer que naturalmente produz em nós, tem uma missão providencial, querida por Deus para nossa salvação” (BASURKO, 2005, p.33).
            Os Santos Padres da Igreja consideram o canto dos salmos[4] como um meio instituído por Deus para restabelecer e reformar o homem caído pelo pecado. No canto doa salmos[5], Deus uniu o prazer da melodia, levando em conta a natureza humana e sua inclinação, com suas palavras divinas, que ensinam ao homem o caminho da virtude. Assim sendo, o homem que venha a se mostrar contrário a tudo o que se possa supor incômodo ou esforço, receberá em seu coração os ensinamentos divinos pelo prazer da melodia. São João Crisóstomo irá nos explicar melhor este pensamento:

É necessário explicar, antes de tudo, o uso dos salmos e por que os dizemos sob a forma de canto. Eis aqui por que a recitação dos salmos vem acompanhado do canto: Deus:, vendo a indiferença de um grande número de homens, que não têm nenhuma afeição pela leitura das coisas espirituais e não podem suportar o trabalho sério do espírito que elas requerem, quis torna-lhes este esforço mais agradável e tirar-lhes até a fadiga. Uniu, então, a melodia um gosto muito vivo por estes hinos sagrados[6].

            “O Salmo cantado torna-se assim uma medicina divina para a cura do espírito humano, ferido pelo pecado” (BASURKO, 2005, p. 33). Basílio nos lembra que os médicos experientes quando precisavam curar algum doente com remédios amargos, eles possuíam o costume de ungir alguma vezes com mel a borda do cálice, para que o doente não sentisse o gosto desagradável. Porém, Deus em relação aos Salmos age da mesma forma para conosco, ele junta o mel da melodia ao das suas palavras divinas.


[1] Comentarium in psalmum 65, 7-9, em PG, 23, 657-660.
[2] Enarratio in psalmum 132,1, em PL 37,1729.
[3] Expositio in psalmum 134,1, em PG, 55,388.
[4] São Basílio: “Os salmos, enquanto lhes é possível, reprimem os defeitos desordenados que vão surgindo no espírito humano através de sua vida e o fazem por meio da harmonia suave e agradável que faz nascer pensamentos honestos... E, embora alguém se encontre irado como uma fera, tão logo começa a deleitar-se no canto dos salmos, desaparece imediatamente a ferocidade, adormecida pela melodia”. (Homilia in psalmum 1,1, em PG, 29,211).
[5] São João Crisóstomo: “Suponde um homem entregue aos mais baixos vícios: enquanto está cantando com respeito os salmos, adormece a tirania das paixões, e, embora esteja oprimido por inumeráveis males e seja vítima de uma profunda tristeza, a suavidade destes cantos alivia a sua dor, eleva seus pensamentos e levanta seu espírito até o céu”. (Expositio in psalmum 134,1, em PG, 55, 388).
[6] Expositio in psalmum 41,1, em PG, 55,156.



Seminarista Edélcio Augusto Soares
4° Ano de Teologia
04 de Junho de 2013